A gente foi assim, um misto de brincadeira e seriedade, de flertes descarados e verdades na mesa, fomos os extremos um do outro, de uma vez só e sem cessar. A gente foi doces e travessuras juntos.

     Vestimos a nossa fantasia de "hoje eu não vou esperar me apaixonar" e saímos em busca da aventura. Saímos com cuidado pra que ninguém nos visse fugindo, assim como uma criança que dá um jeito de se esconder da mãe pra fazer coisa que não deve. Mas de criança a gente só tinha o espirito, porque de resto, éramos 23 e 24 anos de pura necessidade de viver.

     Não batemos à porta de ninguém, mas batemos o olho no olho e nos demos conta de que estávamos alí por nós, pra ser só nós. Não dava mais pra negar, estávamos ligados um do outro e essa era a noite em que os fantasmas deixariam de nos assustar e ficariam pra trás. O fantasma do ex dela, o meu do medo do amor, todos eles se foram naquela mesma hora, pra assombrar sabe-se lá onde e sabe-se lá quem.

     E então nos beijamos, e foi como mágica, ou melhor, feitiço. Tudo o que estava em volta sumiu e só o que eu consegui sentir foi a felicidade de estar ao lado dela e seus os lábios com sabor de framboesa. Era doce, era quente, mas era travesso, misterioso, incrível. Não precisávamos de mais nada naquele momento, só um do outro, e ficamos assim, brincando de ser um casal que vai ser pra sempre, até que a realidade nos separe. E foi bom, porque ela sabia como ninguém como ser uma boa companhia, onde quer que fosse, só por ser ela. 

     Mas como um dia das bruxas qualquer, nós acabamos quando a noite se foi. Ela precisava voltar para a faculdade fora da cidade, eu precisava dormir pra conseguir encarar o péssimo dia que me aguardava no escritório. Ela voltaria algum dia, assim como eu, mas demoraria mais um ano até que isso se realizasse. E foi assim, uma brincadeira que durou uma única noite, onde a gente se fantasiou de nós mesmos e fomos doces e travessuras um para o outro.

Seu amigo desconhecido.