Você não vale as fitas cassete que eu te emprestei

14:52:00




Uma cidade qualquer, 12 de outubro de 1985

     Você não vale nada, Julian, você foi só tempo perdido, só mentira e ilusão. Você não vale nem aquelas fitas cassete que eu sempre te emprestei. Por que você tem que ser tão babaca assim? Será que não cansa mesmo? Eu só queria que você me deixasse um pouco em paz e não espalhasse pra toda a turma do colégio que um dia eu quis te beijar.

     Você sempre insistia em voltar da escola comigo, mesmo o caminho sendo totalmente o oposto ao da sua casa. Ficava conversando comigo e me perguntando sobre as bandas que eu gostava, sobre os programas que eu assistia, e estava sempre querendo saber o que eu iria fazer no final de semana. Pra que tanto esforço?

     E eu aos poucos fui gostando de ser sua amiga, a gente conversava sobre tudo. Quando você me disse que não tinha como escutar as músicas antigas que não eram mais vendidas em lugar nenhum, eu passei a te emprestar as minhas fitas cassete. EU TE EMPRESTEI AS MINHAS FAVORITAS. Mas parece que nem consideração por isso você não teve.

     E eu tinha vergonha de admitir, mas estava gostando de você. Era tudo muito novo pra mim e eu nunca tinha sentido nada parecido antes, o que quer que isso fosse. Quando eu finalmente decidi te contar, você riu de mim, perguntou se eu era boba ou algo do tipo e se eu achava mesmo que tinha chance com o garoto mais popular da 7° série do colégio. Mas isso nem foi o pior, pois eu não acreditei nas palavras que a seguir saíram da sua boca: "Eu só queria era escutar essas suas fitas mesmo". Não acredito que você teve essa coragem de fazer isso comigo, eu era sua amiga, e pior, eu gostava de você e te emprestei as minhas fitas cassete.

     Mas agora eu é que não quero mais olhar pra sua cara, nem que você me peça desculpas, nem que você diga que gosta de mim, nem que você me devolva as fitas que ainda estão com você. Você só tem 13 anos mas não vale nada, Julian, não vale a minha companhia e não vale nem as fitas cassete que eu sempre te emprestei.


Seu amigo desconhecido.

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Você não pode – e nem precisa – saber quem eu sou, assim como você não precisa se revelar para mim, a menos que queira, é claro. Aqui eu escrevo não só para você mas também em grande parte para mim mesmo, afinal de contas, todo mundo precisa desabafar, e talvez esse seja o jeito que encontrei pra mim, então procure me entender assim como eu tentarei entender você caso queira.

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