A gente não diz o turbilhão de coisas que tem pra dizer, porque esse turbilhão é rápido, certeiro e forte, sendo capaz de destruir qualquer rua sem saída que haja pela frente. É muita coisa uma atrás da outra e se demorar demais não sobra tempo e nem coragem para que todas sejam ditas.

     Nós não temos coragem de dizer que talvez não esteja tudo bem, que pode ser que um pouco de preocupação caia bem, que isso que estamos sentindo é de verdade e que não há garantias de que passe rápido. E às vezes não dizemos porque não há como explicar. As palavras não vêm, a voz não sai e não existe nenhuma coerência. É porque estamos vulneráveis e ao menor toque podemos desmoronar.

     E não dizemos que talvez tenha problema se a pessoa for embora, porque nos importamos muito e por mais que sejamos maduros, ainda não sabemos controlar as nossas emoções. Somos muito sentimento e pouco auto-controle. Ainda não estamos prontos para dizer adeus e não sabemos se algum dia estaremos. Mas não dizemos "fica mais um pouco, eu preciso de você" porque não queremos ser essa pessoa.

     Não dizemos o quanto gostamos e que não conseguimos parar de pensar nisso porque a lei dos joguinhos não deixa. Quem disser primeiro perde, e você não quer ser o perdedor. E se o "quem diz primeiro" não deixa, o medo de não ser correspondido(a) paralisa e faz criar paranóias (muitas vezes absurdas) para que desistamos dessa ideia. É melhor deixar que a pessoa descubra por si própria, pois isso não é um jogo?

     E por fim não dizemos um monte de coisas que poderiam mudar o rumo da nossa história. Não que não tenhamos o que dizer, na verdade temos e muito, mas falta coragem, falta sinceridade e falta voz. E enquanto não descobrimos como mudar isso, nosso monte de palavras vai se amontoando cada vez mais e nós continuamos não dizendo nada.

Seu amigo desconhecido.