A história começa assim

12:23:00


     A história começa assim: você está cumprindo o expediente de mais um dia e de repente avista aquela pessoa, ela parece incrível e você quer conhecê-la de qualquer jeito. A partir daí os dias passam a se tornar oportunidades para colocar estrategias de aproximação em prática.

     Primeiro você consegue cumprimentos bobos, cortesias e gentilezas, logo os cumprimentos se tornam conversas formais, mas que nunca levam a lugar nenhum e não duram mais que alguns minutos. Mas você quer mais, quer saber dos interesses, dos ideais, dos gostos e medos dessa pessoa, no entanto, não sabe como passar da barreira que o(a) impede. Parece que um diálogo normal nunca vai acontecer.

     Mas aí eis que, sem ser percebida, a linha entre a conversa formal e o real interesse desaparece e quando você se dá conta já está ouvindo a história mais constrangedora daquela pessoa. Tudo fica diferente, você se sente mais leve para falar abertamente e fazer brincadeirinhas, e tudo se desenvolve tão fácil que você se pergunta porque teve tanto medo de tentar se aproximar antes.

     Depois de um tempo vocês já sabem tudo um do outro e já possuem apelidos e piadas que só vocês entendem. As horas vagas são preenchidas com a companhia e a conversa um do outro. As banalidades se tornam assuntos importantes e os assuntos importantes se tornam discussões acaloradas que sempre acabam em outro tema que não possui relação nenhuma com o anterior. Como começar a discutir a crise no Brasil e acabar votando em qual sabor de sorvete comprar.

     E então que um dia alguém não atende mais a ligação, ou se esquece de responder as mensagens do chat, ou fura com aquele compromisso porque não estava a fim. As conversas enrijecem, a espontaneidade vai embora, e o silêncio e o constrangimento se tornam maiores que a vontade de fazer dar certo de novo. Aos poucos vocês se distanciam, até que a distância fica grande demais e aquele que um dia quis ser e foi conhecido, se torna um novo e frio desconhecido.


Seu amigo desconhecido.

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Você não pode – e nem precisa – saber quem eu sou, assim como você não precisa se revelar para mim, a menos que queira, é claro. Aqui eu escrevo não só para você mas também em grande parte para mim mesmo, afinal de contas, todo mundo precisa desabafar, e talvez esse seja o jeito que encontrei pra mim, então procure me entender assim como eu tentarei entender você caso queira.

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