Ontem deixei mais uma carta para você, e com essa já são mais de dez. Não sei se você as leu, nem se irá lê-las, mas continuo escrevendo, pois ainda acho que um dia isso irá acontecer.

    Escrevo porque quero te dizer que eu limpei toda a bagunça, aquela que você vivia reclamando que eu nunca arrumava. Eu também comprei aquele novo aparelho de som que você tanto queria e que eu sempre dizia que não podíamos gastar com coisas desnecessárias, e também não posso esquecer de dizer que arrumei as nossas coleções de discos antigos, mas nem sei se posso dizer que elas ainda são nossas. 

     Lembro que você gostava dos Beatles, graças a mim que te apresentei a banda. "Michelle é simplesmente a música que me faz querer aprender francês." você dizia sempre que escutávamos em casa na boa e velha vitrola do meu avô nos dias de domingo. O que dizer? Você tinha toda razão.

     E eu até li aquele livro que você esqueceu aqui quando foi embora, pois você sempre dizia que, como era o seu preferido eu também deveria lê-lo. Pois eu li de verdade, e não gostei, desculpe, mas não gostei mesmo; e sim, eu sei que você viraria uma fera ao saber qual a minha opinião sobre esse livro.

     Mas eis que arrumando e fazendo todas essas coisas, aos poucos eu entendi o porque você se foi, e descobri também que não quero mais tanto assim que você volte, mas ainda quero que seja feliz, seja onde for, como for e com quem for. Por esse motivo lhe escrevo hoje, para dizer que aprendi a não depender do passado e aceitar o que tiver que ser, e essa carta, essa é a minha última. Ainda espero que tenha lido as outras, mas se a resposta para isso for não, também não há problema algum, pelo menos não mais...

Seu amigo desconhecido.